O perigo das despesas ocultas

O perigo das despesas ocultas

O segredo para manter o controle financeiro é comprar à vista e cortar gastos desnecessários

O economista Augusto Sabóia já ajudou mais de 3 000 pessoas a fazer um planejamento financeiro e diz com certeza que o brasileiro não tem noção de poupança. “As pessoas não conseguem se programar para comprar à vista.” O consultor aponta como principal problema a falta de conhecimento das pessoas em relação ao total de gastos envolvidos em cada compra, as chamadas despesas ocultas. Também diz que as viagens, poupança para a faculdade do filho e para a aposentadoria exigem escolhas e corte de pequenas despesas diárias.

Gastos com cafezinho podem chegar a 2 080 reais no ano

O que são despesas ocultas?
A despesa oculta não costuma entrar no orçamento das famílias. É comum ver o pai avisar que comprou um carro por 1 500 reais por mês. Eu aviso: você vai pagar 4 000 reais por mês, pois o carro precisa de combustível (500 reais por mês), mais a manutenção (3 reais ao dia ou 100 reais ao mês), despesas com seguro, Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA), licenciamento e reservas mensais para trocar o carro daqui a alguns anos. As despesas ocultas somadas ao financiamento alcançam 4 000 reais mensais. Outro exemplo: quando a mãe resolve pagar a faculdade de alguém da família, não é só a mensalidade. A faculdade envolve livro, transporte, festa de formatura. Os itens relacionados têm de entrar na planilha de orçamento. As pessoas não enxergam o todo.

Como enxergar as despesas ocultas?
Falta educação financeira. As pessoas só pensam no imediato. O jovem tem de ter em mente planos para daqui 20, 30 ou 40 anos, para poder alcançar desejos e sonhos.

Como fazer isso?
A pessoa tem de perceber que o cafezinho após o almoço, o pão de queijo no meio da tarde, as balinhas, sorvetes etc. representam no final do dia uns 8 reais. Na semana, são 40 reais. No mês, são 160 reais. No ano, 2 080 reais, sem considerar a taxa de juros, caso o dinheiro estivesse aplicado. Quero que a pessoa perceba que o dinheiro gasto naquelas duas cervejinhas, no final do expediente, diariamente, seria suficiente para a viagem da família a Nova York. A pessoa é que vai decidir: cafezinho com pão de queijo ou viagem daqui a um ano?

Então tudo isso é pecado?
Cafezinho e restaurante não são pecados. Não é preciso mudar a marca da sua roupa, mas você pode comprá-la em épocas diferentes. A questão é quanto o produto representa no orçamento da pessoa. Eu vou tomar um cafezinho que ao longo de um ano vai representar 30% da minha capacidade de poupança? A pessoa tem o direito de continuar com o cafezinho, mas não venha me dizer que não consegue poupar. É muito importante prestar atenção em quanto o preço daquele produto representa no orçamento. Uma bolsa de 5 000 reais para um milionário não é nada. Enquanto para um operário é muito.

O importante é fazer escolhas certas?
É isso mesmo. A mãe tem a opção de trocar o celular do filho e, em vez de quitar contas de telefone, pode depositar o dinheiro para a faculdade da criança. Outro exemplo: um cachorro custa, em média, 150 000 reais em 15 anos. Há despesas com alimentação, veterinário, remédios, higienização, entre outras. Algumas pessoas têm dois ou três cachorros. Se você não tem os 200 000 reais poupados para a faculdade do filho, como é que pode ter cachorro? Se você não tem outros 200 000 reais reservados para a sua aposentadoria, como é que pode ter cachorro? Sem animais, você poderia juntar 150 000 reais a cada 15 anos. Fazendo as contas, seria possível atingir 1 milhão de reais em 60 anos. O que você prefere: ter cachorros e viver com 2 000 reais recebidos do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), quando estiver idoso, ou alcançar 1 milhão de reais para uma aposentadoria tranquila?

Como a pessoa pode se planejar?
Sempre digo que a família brasileira tem de enriquecer e transmitir riqueza para próxima geração. Na prática, isso não ocorre. A maior parte das famílias consome tudo o que ganha em vida e ainda fica devendo mais. A família ganha 10 000 reais e gasta 22 000 reais e, no final do mês, deve 12 000 reais. O único jeito é cortar de um lado para pagar do outro e ter noção das despesas ocultas por meio de um orçamento detalhado. Fazer um orçamento é um ato de coragem.

Por que orçamento é um ato de coragem?
Fazer o orçamento é colocar no papel tudo o que recebemos menos o total de gastos, considerando as despesas ocultas, desperdícios, cálculo de inflação e impostos que serão pagos. O ideal é registrar cada passo por três meses. Andar com uma cadernetinha no bolso, anotando tudo. É como se estivesse escrevendo um diário, anotando tudo. Depois é legal colocar as informações em gráficos para ver as iniciativas sensatas e as loucuras.

Quais são as loucuras mais comuns?
Começar a vida pagando faculdade fiado, formatura fiado, festa do casamento fiado, carro fiado, apartamento fiado. Neste ritmo, a vida profissional começa com uns 30 anos de dívida, com metade do salário já pendurado. Essa situação é muito complicada. A construtora diz que você pode destinar até 30% do seu salário para cada prestação. Não dá. Digo sempre que as pessoas devem comprar à vista. Acumulando 1 600 reais por mês, durante quatro anos, há dinheiro para quitar o apartamento. Dá para comprar um imóvel de 100 000 reais em quatro anos, considerando que o dinheiro seja investindo em um fundo de renda fixa DI. Mas tem gente que prefere pagar 500 000 reais, somando os juros às prestações, por algo que vale 100 000 reais.

Por que é difícil acumular dinheiro? 
Não há noção de poupança. Uma pessoa que ganha 3 000 reais por mês, recebe 36 000 reais em um ano. Após 35 anos, teria ganho 1,26 milhão de reais. Não dá para chegar à aposentadoria dizendo que não tem nada. Para onde foi o dinheiro? Bastaria guardar 300 reais todo mês, aplicá-los em algum investimento atrelado a taxa de juro e, ao final de 35 anos, chegará a 1 milhão de reais.

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